Frank Zappa "Meets The MOthers Of Prevention"

By Manuel Falcão

Expresso, May 17, 1986


FRANK ZAPPA
Meets The Mothers Of Prevention

Este disco não é só um disco: é sobretudo um panfleto, um dos mais deliciosos panfletos gravados até hoje: Frank Zappa levanta-se em pé de guerra contra a censura. Para começar a história do princípio convirá recordar que, em meados de 1985, um grupo de mulheres de senadores e congressistas norte-americanos, alarmadas com o que consideraram ser o «descalabro de linguagem utilizado nos textos gravados por artistas de rock» e «pelas constantes insinuações sexuais explicitas contidas nas mesmas gravações», decidiram constituir-se em grupo de pressão com o objectivo de promover a instauração de censura sobre as palavras cantadas nos discos e de obrigar a que, os já existentes e que no seu entender contivessem expressões impróprias, passarem a ser assinalados por uma etiqueta exterior referindo o facto e com várias classificações possíveis. Este disco de Zappa, que aliá foi uma das testemunhas ouvidas pela Comissão do Congresso norte-americano entretanto encarregada de estudar o assunto, propõe-se combater o que ele classifica de «comportamento ultrajante de algumas mulheres de alguns politicos com acesso privilegiado aos media e sem nada mais que fazer». Para Zappa, aquelas senhoras fazem pane do grupo que considera ser o sexo a mesma coisa que pecado, procurando apenas com as suas campanhas «instaurar deturpações neuróticas que mantêm os fabricantes de pornografia com fartos lucros».

«Tentando retirar todas as referências à sexualidade dos meios consumidos pelos jovens procura-se, ao contrário do que se afirma, criar uma atmosfera de ignorância que beneficia os prevaricadores e os tarados sexuais e não as crianças» – diz Frank Zappa numa carta enviada a Reagan a propósito de toda esta questão.

As letras do disco referem-se explicitamente a esta questão, à campanha desencadeada pelo «Parent's Music Resource Center» com a habitual dose de ironia e a acidez de palavras que lhe é reconhecida. São particularmente deliciosos temas como «Alien Orifice», «What's New In Baltimore» e «Aerobics In Bondage», mas o prazer não é menor em preciosidades panfletária como «One Man One Vote» e «We're Turning Again». Musicalmente Zappa esforça-se por superar os seus melhore momentos, como se quisesse demonstrar que o rock pode ser qualidade.

No inicio de toda esta guerra estiveram as mulheres de dois congressistas, as senhoras Tipper Gore e Susan Baker, que desencadearam posteriormente toda a movimentação contra o conteúdo de canções rock que é o alvo de mais este álbum de Zappa. A edição prensada em Portugal, à semelhança do que acontece em toda a Europa, contém três canções inéditas que substituem outras tantas incluídas na edição original norte-americana e que foram retiradas por Zappa considerar «que elas são material de conteúdo político sem significado fora dos Estados Unidos». Uma dessas canções que aqui não aparece (e a edição portuguesa não contém a folha interior com as letras e demais indicações escritas por Zappa a propósito de toda esta questão) é a célebre «Porn Wars» que é feita a partir de uma série de colagens de gravações do depoimento de Zappa perante o Congresso norte-americano e das perguntas e observações que os interrogadores lhe dirigiram. A ironia dessa situação é que Zappa coloca os próprios opositores a utilizarem referências explicitamente sexuais num disco seu, num disco de rock. Ele inclui as gravações de excertos de letras que eram consideradas ofensivas e que foram lidas pelos próprios membros da comissão. Apesar da falta deste tema, por vontade expressa de Zappa quanto ao mercado Europeu, o disco é uma pequena delícia, um dos mais divertido e melhores registos deste músico nos últimos tempos.

(LP e MC EMI, ed. EMI-VC).

Manuel Falcão

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